sábado, 16 de outubro de 2010

DE OLHO NA CARTA DA DILMA

Dilma: carta é recurso para combater "central de boatos"
Foto meramente iluistrativa

A candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, disse que a carta que divulgou na tarde de hoje, na qual se compromete a manter a legislação atual referente ao aborto, tem como objetivo combater o que chamou de "central de boatos" supostamente organizada pelo PSDB contra sua candidatura. "A carta é uma manifestação e dá aos pastores que apoiam a minha candidatura os instrumentos necessários para combater a central de boatos que assola o País", afirmou.
Em entrevista coletiva concedida após participar de ato político no Palácio do Trabalhador, na capital paulista, Dilma disse que o documento é direcionado a pastores e lideranças políticas, como o deputado federal Walter Pinheiro (PT-BA) e o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), para que eles possam esclarecer o posicionamento da candidata sobre a questão para os fiéis.
"A carta só serve para uma coisa muito elementar: para que a verdade triunfe", afirmou a petista. "Não se pode instigar o ódio religioso para se ganhar eleição. Isso é algo medieval", criticou ela, referindo-se a uma manifestação da mulher do candidato José Serra (PSDB), Mônica, de que Dilma é a favor da "morte de criancinhas".
Dilma citou Sebastião (sic) Ponte Preta, referindo-se ao heterônimo do cronista Sérgio Porto, Stanislaw Ponte Preta. De acordo com a candidata, o personagem afirmava haver uma "central de besteiras" no País durante a ditadura militar. Na verdade, Stanislaw dizia haver um "festival de besteiras". "Hoje não há mais isso, até porque (ele) estava se referindo à ditadura naquela época. Mas há uma central de boatos", afirmou a candidata.
Dilma enfatizou que o Estado é laico e que é preciso respeitar essa característica. A petista foi questionada se faria também uma carta aos ateus. "Os ateus também convivem neste País", respondeu. "Pelo fato do Estado ser laico, e de nenhuma religião poder assumir o Estado, é muito importante que esses boatos, baseados no ódio religioso, não vinguem. Porque é ruim para todos", afirmou.

EDUCAÇÃO
No Dia do Professor, comemorado hoje, Dilma fez um discurso em favor da manutenção dos investimentos em educação e prometeu salários dignos, plano de carreira e qualificação para os professores da rede pública de ensino. Ela acusou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de sucatear as universidades federais e aproveitou para criticar seu adversário na disputa presidencial, José Serra (PSDB), por sua relação com os professores estaduais na época em que foi governador de São Paulo.
"Não acho correto receber professor com cassetete ou ter uma dificuldade imensa para estabelecer o diálogo. Nem sempre as coisas são coincidentes entre uma categoria e o governo. As reivindicações e visões podem ser diferentes. Mas o diálogo é crucial e eu me comprometo com o diálogo com o professor", afirmou.
A candidata do PT também criticou o fato de mais de 100 mil professores na rede pública estadual de São Paulo estarem contratados de forma temporária. "Eu fico estarrecida com essa questão aqui no Estado de São Paulo, de que uma parte expressiva dos professores, mais de 100 mil entre 216 mil, são temporários, depois de 16 anos de governos do PSDB."
Dilma disse ainda que a educação é uma das formas para eliminar as desigualdades sociais no País. A candidata defendeu o investimento nas universidades federais, onde se produz a maior parte das pesquisas no Brasil.

VÍTIMAS
Do ato de hoje, participaram cerca mil pessoas, entre deputados, senadores e lideranças petistas e sindicais, além de representantes da área de ensino, como a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, que fez um dos discursos mais inflamados contra o tucano.
"Serra tratou os professores com balas e cassetetes", afirmou. "Tome vergonha na cara e olhe o salários dos profissionais de educação do Estado de São Paulo." O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República e um dos coordenadores da campanha da candidata petista, Marco Aurélio Garcia, disse que os professores são uma das "maiores vítimas" do governo de Serra.
Marcaram presença no evento o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, o reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Amaro Lins, e a professora de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Marilena Chauí. Também estavam as lideranças religiosas Gabriel Chalita, eleito deputado federal pelo PSB, e o padre Júlio Lancellotti. Dilma vestia uma camiseta branca com o slogan: "Educação Infantil. 100% Dilma."
Em seu discurso, Dilma pediu que os eleitores conquistem votos para a sua candidatura até o dia 31 de outubro com o mesmo vigor com que participaram do ato. "Estou sofrendo um processo parecido com o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou em 2002. Falaram que ele iria mudar as cores da bandeira brasileira, proibir religiões e instaurar o caos. Fomos às ruas, dissemos não e a esperança venceu o medo", afirmou.
"Neste momento, estão em questão dois projetos para o Brasil, e quanto mais se lançam boatos, mais eles tentam esconder que se tratam de dois projetos muito diferentes." Dilma disse ainda que Serra pretende privatizar a Petrobras e o pré-sal. "Eles vivem querendo privatizar, eles querem privatizar o pré-sal, nosso passaporte para o futuro", afirmou.

A CARTA
Confira abaixo a íntegra do documento:

"Se nos calarmos, até as pedras gritarão

Nestes dias, circulam pela internet, pela imprensa e dentro de algumas de nossas igrejas, manifestações de líderes cristãos que, em nome da fé, pedem ao povo que não vote em Dilma Rousseff sob o pretexto de que ela seria favorável ao aborto, ao casamento gay e a outras medidas tidas como ‘contrárias à moral’. A própria candidata negou a veracidade destas afirmações e, ao contrário, se reuniu com lideranças das Igrejas em um diálogo positivo e aberto. Apesar disso, estes boatos e mentiras continuam sendo espalhados. Diante destas posturas autoritárias e mentirosas, disfarçadas sob o uso da boa moral e da fé, nos sentimos obrigados a atualizar a palavra de Jesus, afirmando, agora, diante de todo o Brasil: ‘se nos calarmos, até as pedras gritarão!’ (Lc 19, 40).

2. Não aceitamos que se use da fé para condenar alguma candidatura. Por isso, fazemos esta declaração como cristãos, ligando nossa fé à vida concreta, a partir de uma análise social e política da realidade e não apenas por motivos religiosos ou doutrinais. Em nome do nosso compromisso com o povo brasileiro, declaramos publicamente o nosso voto em Dilma Rousseff e as razões que nos levam a tomar esta atitude:

3. Consideramos que, para o projeto de um Brasil justo e igualitário, a eleição de Dilma para presidente da República representará um passo maior do que a eventualidade de uma vitória do Serra, que, segundo nossa análise, nos levaria a recuar em várias conquistas populares e efetivos ganhos sócio-culturais e econômicos que se destacam na melhoria de vida da população brasileira.

4. Consideramos que o direito à Vida seja a mais profunda e bela das manifestações das pessoas que acreditam em Deus, pois somos à sua Imagem e Semelhança. Portanto, defender a vida é oferecer condições de saúde, educação, moradia, terra, trabalho, lazer, cultura e dignidade para todas as pessoas, particularmente as que mais precisam. Por isso, um governo justo oferece sua opção preferencial às pessoas empobrecidas, injustiçadas, perseguidas e caluniadas, conforme a proclamação de Jesus na montanha (Cf. Mt 5, 1- 12).

5. Acreditamos que o projeto divino para este mundo foi anunciado através das palavras e ações de Jesus Cristo. Este projeto não se esgota em nenhum regime de governo e não se reduz apenas a uma melhor organização social e política da sociedade. Entretanto, quando oramos "venha o teu reino", cremos que ele virá, não apenas de forma espiritualista e restrito aos corações, mas, principalmente na transformação das estruturas sociais e políticas deste mundo.

6. Sabemos que as grandes transformações da sociedade se darão principalmente através das conquistas sociais, políticas e ecológicas, feitas pelo povo organizado e não apenas pelo beneplácito de um governante mais aberto/a ou mais sensível ao povo. Temos críticas a alguns aspectos e algumas políticas do governo atual que Dilma promete continuar. Motivo do voto alternativo de muitos companheiros e companheiras Entretanto, por experiência, constatamos: não é a mesma coisa ter no governo uma pessoa que respeite os movimentos populares e dialogue com os segmentos mais pobres da sociedade, ou ter alguém que, diante de uma manifestação popular, mande a polícia reprimir. Neste sentido, tanto no governo federal, como nos estados, as gestões tucanas têm se caracterizado sempre pela arrogância do seu apego às políticas neoliberais e pela insensibilidade para com as grandes questões sociais do povo mais empobrecido.

7.
Sabemos de pessoas que se dizem religiosas, e que cometem atrocidades contra crianças, por isso, ter um candidato religioso não é necessariamente parâmetro para se ter um governante justo, por isso, não nos interessa se tal candidato/a é religioso ou não. Como Jesus, cremos que o importante não é tanto dizer "Senhor, Senhor", mas realizar a vontade de Deus, ou seja, o projeto divino. Esperamos que Dilma continue a feliz política externa do presidente Lula, principalmente no projeto da nossa fundamental integração com os países irmãos da América Latina e na solidariedade aos países africanos, com os quais o Brasil tem uma grande dívida moral e uma longa história em comum. A integração com os movimentos populares emergentes em vários países do continente nos levará a caminharmos para novos e decisivos passos de justiça, igualdade social e cuidado com a natureza, em todas as suas dimensões. Entendemos que um país com sustentabilidade e desenvolvimento humano - como Marina Silva defende - só pode ser construído resgatando já a enorme dívida social com o seu povo mais empobrecido. No momento atual, Dilma Rousseff representa este projeto que, mesmo com obstáculos, foi iniciado nos oito anos de mandato do presidente Lula. É isto que está em jogo neste segundo turno das eleições de 2010."
Fonte: www.jornalacidade.com.br

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